O monitoramento do desmatamento nos biomas brasileiros não amazônicos — Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal —, anunciado em 2008, começou no final de março e já traz resultados sobre o Cerrado. Imagens de satélite de cerca de 10% do bioma já foram interpretadas por técnicos do Ibama e mostram um desmatamento de 20.464 km2 (equivalente ao tamanho de Sergipe) de 2002 a 2008.


A primeira região do Cerrado analisada — que abrange oeste da Bahia, sul do Piauí e sul do Maranhão — é notadamente crítica, faz parte da fronteira agrícola do bioma, onde o avanço da agricultura sobre a vegetação é maior. Somente com os dados completos será possível conhecer a dimensão real do desmatamento neste bioma. Algumas medidas para inibir o corte da vegetação, porém, já são consideradas. Bráulio Dias, diretor de conservação da biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, afirma que devem ser criadas unidades de conservação após a identificação das áreas mais críticas do Cerrado, com espécies ameaçadas.

Outra medida prevista é o aumento da fiscalização. A fiscalização da vegetação brasileira é feita com o envio de equipes a locais sobre os quais existem informações de corte de vegetação natural, ou sobre os quais o Ibama recebe denúncias de desmatamento. O aumento de informações sobre cortes com as fotos de satélite, portanto, deverá levar a uma fiscalização mais presente. Dias ainda acredita que as informações sobre a devastação do Cerrado possa levar à criação de incentivos para o uso sustentável do bioma, como linhas de crédito.

Enquanto a Amazônia conta com um monitoramento de seu desmatamento desde 1988, com dados anuais precisos vindos do sistema PRODES (Programa de Cálculo de Deflorestamento da Amazônia), e “alertas” mensais de possíveis áreas desmatadas, do sistema DETER (Detecção do Desmatamento em Tempo Real), os demais biomas — que somam um total de 4,3 milhões de km2, área maior do que a Índia — não tinham até agora nenhum controle oficial sistemático. Para o diretor do ministério é possível que, com o mapeamento atual, sejam encontradas taxas de desmatamento até mais altas do que as da Amazônia. “O problema na Amazônia é muito evidente. Governo, agências estrangeiras e ONG’s têm uma idéia do desmatamento. Já para os outros biomas, não tínhamos uma dimensão”, explica.

Além da conservação da biodiversidade, Dias destaca a importância do monitoramento para o controle das emissões de CO2. Segundo ele, no Brasil, três quartos das emissões do gás acontecem em função do desmatamento.

As imagens analisadas agora estão sendo comparadas com dados dos Mapas de Cobertura Vegetal dos Biomas Brasileiros, que tem informações de 2002. O desmate encontrado, portanto, não terá como base o bioma intacto. No caso do Cerrado, por exemplo, estima-se que desde a década de 70 (quando começou a ocupação intensiva da região), até 2002, tenham sido desmatados 40% do bioma. Os dados sobre os biomas extra-amazônicos que começam a ser coletados agora serão anuais, semelhante às informações da Amazônia fornecidas pelo sistema PRODES. Em 2010, devemos ter dados comparativos de 2009 com 2008.

Primeiro bioma a ter suas imagens interpretadas, o Cerrado deve ter informações precisas sobre seu desmatamento até setembro. O próximo bioma analisado será a Caatinga, cujos dados serão divulgados em novembro. O monitoramento dos demais biomas tem divulgação prevista para o início de 2010.

Assim como o controle anual da Amazônia, o novo monitoramento identifica somente impactos totais — deixa de fora queimadas, áreas parcialmente degradadas e regiões regeneradas. A limitação pode fazer diferença em alguns locais. No levantamento de 2002, constatou-se que 20% das áreas da Amazônia que foram desmatadas acabaram abandonadas e entraram em regeneração, a vegetação natural voltou a tomar conta. No caso das queimadas, elas também podem corresponder a uma área significativa em alguns biomas, como o próprio Cerrado, segundo Bráulio Dias. A detecção das queimadas é feita pelo INPE . Já os casos de áreas regeneradas não têm monitoramento.