Por: Thuane Daébs

“Alarmismo desproporcional e desmedido e sem fundamento”. Assim começa a palestra do Ricardo Francesconi, Geólogo e ex-professor da USP, referente à posição e às ações do Greenpeace em relação às contaminações dos poços em Caetité-Ba. Evento promovido pela INB.

O primeiro palestrante, Evandro Carele, da INB, explica o contexto geológico da Província Uranífera de Lagoa Real. Explica que antes das instalações da INB na região, já haviam problemas como casas construídas sobre anomalias de urânio, poços a céu aberto e poluídos, segundo Carele, foi com a chegada da INB que a população teve oferta de água melhorada. Orgulha-se ao afirmar que a quantidade de urânio existente nesta província atende a Angra 1 e Angra 2, diz que as reservas são suficientes para atender a Angra 3 (que está em construção) e às próximas 8 usinas nucleares que se pretende instalar no Brasil até 2030. A INB, no entanto, não está satisfeita. A Companhia Brasileira de Pesquisa Mineral (CPPM) está em busca de novas jazidas e as próximas, que já estão em fase de licenciamento, são as de Engenho e Quebradas.Ele cita também vários estudos ambientais feitos, entre eles o Projeto Waquaminas, da Geoservice, da WR Consultoria LTDA e o da COPPE. Fala de estudos e pesquisas, mas nunca de seus resultados.

Dando continuidade à programação, assume o microfone o Professor Francesconi. Antes de falar sobre o estudo da Geoservice, empresa da qual faz parte, ele ataca o Greenpeace e o Padre Osvaldino que criou em Caetité a Comissão Paroquial de Meio Ambiente. Ao falar do padre, em tom de ironia, ele disse que este vai sair candidato este ano e insinua que toda repulsa à presença da INB em Caetité é para se promover como político. “Vejam a manipulação das coisas” diz Francesconi referindo-se à possível candidatura do padre.

Para alfinetar o Greenpeace, o professor foi ainda mais longe. Afirmou que o Greenpeace pagou a uma jornalista que ficou 6 meses em Caetité “vinte e cinco mil reais por mês para fazer um levantamento faccioso”, palavras do professor. A príncipio, ele disse que esta descoberta foi fruto de pesquisas pessoais que ele decidiu fazer, mas quando questionado pelos voluntários do Greenpeace em Salvador sobre a veracidade das acusações, ele refez a história dizendo que foi a Polícia Federal quem descobriu.Disse ainda que a denúncia e o alarde sobre a mineração em Caetité foram feitos “por pessoas mal intencionadas para minar por completo o esforço brasileiro em se tornar auto-suficiente”.

Entre tantas inverdades ditas pelo Ricardo Francesconi, é claramente perceptível o que de fato é faccioso. Ele continua sua palestra na tentativa de desmentir as denúncias do Greenpeace através do estudo da Geoservice e que, de acordo com o Ingá, não prova nada em relação à contaminação dos poços. Um dos argumentos que ele se valia era de que o aqüífero de Caetité é confinado, ou seja, não há comunicação com as jazidas de urânio nem entre um poço e outro, por esse motivo não seria possível uma contaminação. Mas logo é interrompido por outro professor de Geologia, Jerônimo (UFBA), que diz não ser plausível afirmar que o aqüífero é confinado. Francesconi tenta se corrigir dizendo que é semi-confinado, “tão semi-confinado que a gente só diz que é confinado”, completa entre risos. Afirma também que o índice de doenças mutagênicas na região está dentro da normalidade.

Por fim, é a vez da Mariza Franklin (IRD/CNEN) dar seu parecer, quer dizer, palestra. Ela fala sobre os “Aspectos de Radioproteção Ambiental da Unidade de Concentrado de Urânio – URA e do entorno, enfocando a questão das águas”. Ela “tranqüiliza” a platéia dizendo que a CNEN é o órgão regulador responsável por fiscalizar a INB e que “a URA está trabalhando dentro dos limites estabelecidos pela CNEN - riscos aceitáveis” estava escrito em um de seus slides de apresentação. Ao mostrar vários gráficos sobre as doses de materiais radioativos nos poços, os poços 67 e 68 mostraram doses elevadas e em tom descontraído Mariza diz “é, vocês deveriam dar uma olhada nisso (referindo-se ao pessoal da INB), acho que terei que passar lá depois” e não comenta mais sobre isso. Quanto aos poços interditados pelo INGÁ, Mariza justifica-se dizendo que isso aconteceu porque o INGÁ obedeceu à legislação antiga e que caso tivesse se baseado na nova legislação os poços não teriam sido desligados. Ela conclui dizendo que as denúncias feitas de maneira irresponsável tiveram conseqüências psico-econômicas maiores que as conseqüências radiológicas. Ao final, foi aberto para debate. Os voluntários do Greenpeace questionaram o Francesconi sobre a acusação feita em sua palestra sobre a jornalista da ONG, mas ele esquivou-se dizendo ter sido a Policia Federal a descobrir isso e não nos deu o direito à réplica. Foi perguntado a Mariza sobre alguns procedimentos nada padrões como o estoque do urânio por dois dias nos Portos de Salvador em 2008, mas, mais uma vez, não fomos respondidos.